edição número 39 - newsletter Buteco do Edu
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O CONCLAVE
O mundo assistiu, na semana que passou, ao conclave que elegeu o novo Papa, Leão XIV.
O que me chamou bastante à atenção, e dediquei-me à crítica mais amiúde na minha conta do Instagram (aqui), foi o tom que a imprensa brasileira imprimiu à cobertura - e faço desde já a ressalva: apenas dois jornalistas, Ilze Scamparini e Rodrigo Carvalho, deixaram de fazer parte do picadeiro.
Todos os demais jornalistas erraram feio.
Olvindando-se de que o conclave é etapa intransponível do luto da Igreja Católica (o que, evidentemente, exigiria sobriedade e respeito por parte da imprensa), os demais jornalistas da Vênus Platinada pareciam estar na Marquês de Sapucaí, cobrindo o Carnaval das Escolas de Samba.
Faziam piadas.
Brincadeiras, uns com os outros.
Exibiam-se excitados, deslumbrados, pavões ególatras que jamais estariam ali se doutor Roberto Marinho estivesse vivo. Ou ainda, se Boni estivesse na ativa.
Era o que eu queria, por ora, lhes dizer.
LIVROS, LIVROS, LIVROS
O Brasil, dia desses uma triste notícia deu conta disso, tem um terço de sua população inserida no contexto do analfabetismo funcional. Gente que não lê, que quando lê não interpreta, que quando interpreta, interpreta mal e não contextualiza nada. Uma tragédia, uma tragédia absoluta, crônica e que me parece irreversível.
Há, evidentemente, os que lêem - e lamentavelmente, as listas de mais vendidos não me deixam mentir, lêem autoajuda e outros bichos congêneres.
Há também, claro, os que lêem livros à altura de serem chamados livros.
Mas o que dizer dos escritores e das escritoras membros fixos da corriola, das panelas, que envergonham o ofício? Lembro, sem fazer muita força, de dois nomes (Julio Bernardo e Marcelo Mirisola) que não estão inseridos na turma, que não fazem concessões e que, por isso, estão à margem das vitrines.
A imensa maioria dos queridinhos dos ~cadernos de literatura~ (não existem mais, os que estão aí são risíveis) é de fazer vergonha.
Estão sempre em ~mesas~, em ~rodas de conversa~, estão aí à frente de ~curadorias~, participando de ~feiras~, numa espiral vaidosa que - franca e sinceramente - me enoja.
Não diferem em nada dos ~jornalistas~ pavões a que me referi acima.
Apenas e tão-somente Luiz Antônio Simas, que é um gênio e é showman, pode fazer o que quiser.
LADY GAGA E O PADRE MARCELO ROSSI
Casa cheia no dia do show da Lady Gaga.
Amigos novos à mesa comigo, desde cedo - Samuel de Sabóia (que acaba de lançar disco novo, aqui) com André e Zelo.
Muito uísque, muita caipirinha, muita expectativa.
E além deles, Pedro, claro, que veio com Virgínia, sua mãe, para irmos todos juntos ao show.
Dou a explicação para que a história, real, ganhe força e sentido de veracidade: era a terceira vez que Virgínia vinha à minha casa - façam vocês uma idéia da minha preocupação justificada, querendo agradar, não errar em nada, esses bichos protocolares.
Em apertada síntese, porque é o que fato interessa in casu, fomos todos ao show e, findo o apoteótico espetáculo, voltamos para casa nós três: eu, Pedro e Virgínia.
Corta para a manhã do dia seguinte, domingo.
Acordo e ouço, em alto volume, a TV da sala ligada.
Ponho a cabeça pra fora da porta do quarto.
O quarto em que Pedro dorme, com a porta fechada.
Pedro está dormindo, pensei.
A TV, repito, em alto volume, transmitia (reconheci pela voz) missa rezada e cantada pelo padre Marcelo Rossi.
Pensei de mim para mim: Virgínia é católica, é apostólica e é romana!
E fui, pé ante pé, a fim de não assustá-la, em direção à sala para o bom dia.
Já me preparava para, com o intento de bem impressioná-la, elogiar o padre, cantar junto, juntar as mãos e dar um bom-dia angelical.
A cena: Pedro deitado sem camisa, dormindo (abrindo o olho, vez por outra), um copo aguado cheio de uísque no braço do sofá, o cinzeiro cheio no chão e Marcelo Rossi cantando um louvor - Hosana nas alturas, era esse! - diante do homem pagão, descalço, o pecado boiando na sala, e morrendo de rir quando lhe disse o que se passara na minha cabeça, eu já imbuído do espírito cristão de bom menino querendo agradar sua mãe.
DIA DAS MÃES
Domingo passado foi dia da mães e quero, antes de lhes deixar com a seção Das prateleiras do Buteco do Edu, lhes dizer o seguinte: antes de Leonel nascer, em maio de 2018, eu vociferava contra essas duas datas comerciais, o dia das mães em maio e o dia dos pais em agosto.
Foi ele nascer e os dois dias passaram a ser sagrados para mim.
Vai daí que a ciranda dos fantasmas e das fantasmas da minha vida, a parentalha toda, entra em ritmo alucinado quando vão chegando as duas datas.
Agora mesmo, no domingo passado - dia das mães - cheguei ao final do dia cansado, tantos foram os arremessos em direção ao passado.
Cheguei na casa de mamãe, no Alto da Boavista, nos Alpes Tijucanos, e lá estavam (tentei disfarçar, sem êxito) todas as mortas (algumas delas com algodões nas narinas): Bia, tia Hidinha, tia Linda, tia Zirota (repitam esse nome, Zirota - á agudo - e percebam que não pude ser normal chamando uma tia dessas pelo nome), tia Fernanda, tia Lys, todas mães como minha mãe (e como Morena, que estava comigo) merecendo minhas preces contritas e minha emoção.
Mas eu, incorrigível, durão, só no final da tarde tive coragem de pedir uma foto à mamãe - para ficar perto, sentir seu colo, voltar um pouco no tempo.
Mamãe estava (como sempre) com uma taça de vinho nas mãos (quando não é uísque, é vinho). Eu, preciso do início ao fim, tudo controlava: era a décima terceira taça de vinho daquela tarde.
Até.
DAS PRATELEIRAS DO BUTECO DO EDU
O texto Minha primeira quaresma é de 21/02/2013, e foi publicado originariamente aqui. O republico hoje em homenagem a Rodrigo Gava, o mais católico, o mais apostólico, o mais romano dos religiosos que conheço. Ei-lo:
“Lembro-me como se fosse hoje. Ela, sem esconder a excitação com a efetiva possibilidade daquilo acontecer o quanto antes, disse-me com os olhos fixados nos meus:
– Você pre-ci-sa conhecer o Gava! – e ela disse o “precisa” assim mesmo, separando as sílabas, enfatizando a necessidade do encontro.
Estávamos no Bar da Maria, na rua Garibaldi, e eu dei corda:
– É? Por que?
Ela derramou-se em elogios e passou a desdobrar, sobre a mesa, a biografia do sujeito. Eram conterrâneos, do Paraná, e ele já estava morando há coisa de uns meses (pouco mais de ano) no Rio, “um pouco deslocado”, (acho que) ela disse. E tornou a repetir, depois de um vigoroso gole na cerveja estupidamente gelada que dividíamos:
– Você pre-ci-sa conhecer o Gava!
Fato concreto é que eu conheci o Gava.
Antes, porém, faço questão de lhes contar um detalhe fundamental.
Durante a tal conversa no Bar da Maria, ela disse-me quase aos cochichos:
– O Gava é católico.
E eu sei lá por qual razão a junção dessas duas palavras numa mesma frase – Gava / católico – causou-me uma espécie de respeito prévio, imediato, pelo sujeito. Ela foi adiante:
– Católico! No duro! E da ala avançada da Igreja…
Tornou a baixar a voz:
– Respeita a Quaresma…
Voltemos.
Conheci o Gava poucos minutos antes da saída do Bola Preta, no Carnaval de 2012. Estávamos, eu e ela, começando a viver nosso primeiro Carnaval juntos e ela achou uma boa idéia, vá entender, apresentar o namorado (eu) para o amigo (ele) na manhã do Sábado de Carnaval.
Eu estava fantasiado de Vilma Flinstones, um vestidinho com estampa de onçinha, meia arrastão, com unhas postiças pintadas com esmalte cor-de-abóbora, uma peruca imensa combinando com as unhas, óculos escuros comprados na rua da Alfândega, na véspera, e rodando uma bolsinha porque eu já saíra calibrado de casa – evidentemente.
A impressão que guardei desse primeiro encontro – eu estava impressionado desde o Bar da Maria – foi a de que ele foi, assim, 100% católico: lembro-me dos olhos compungidos de tanta piedade diante de mim (guardo ligeira impressão de ter visto ele fazendo o sinal da cruz como que a me benzer) e de nada mais, até nosso encontro seguinte (já bem depois do Carnaval).
De lá pra cá, eis a verdade: constatei que o Gava é, efetivamente, um grande praça. Almoçamos com beneditina freqüência, trocamos e-mails com alguma assiduidade, vamos lá, aos poucos, costurando uma relação como – é como penso – ela imaginou no não tão longínquo novembro de 2011. Mas a cada encontro – eis o assombroso! – eu saio repetindo, de mim para mim:
– O Gava é católico.
E logo depois eu mesmo emendo:
– Apóstólico e romano!
Pausa: o Gava anda tendo cólicas de ansiedade com a eleição papal que se aproxima. Nisso, vejam que bonitos são os caminhos da vida, ele e o Szegeri (um ex-católico fervoroso) são irmãos. Volto ao assunto.
Até que, poucos dias antes do Carnaval deste 2013, almoçávamos, eu e o Gava, no centenário Cosmopolita, na Lapa. E eu estava reclamando do meu estado físico (estou, a cada dia que passa mais, uma bóia) quando ele me interrompeu:
– Recolha-se na Quaresma.
E disse isso, meus poucos mas fiéis leitores, com uma calma, com uma tranqüilidade, que vi pombas brancas sobrevoando sua cabeça, uma espécie de São Francisco de Assis (mais bonito, que o Gava é um pão, diriam minha bisavó e minha avó) diante de um rebento perdido e transido.
E cá estou eu vivendo minha primeira Quaresma, sem pôr uma única gota de álcool na boca desde o domingo último (sei que, com isso, não estou a seguir as regras de Roma, mas meu Papa é outro). No sábado, inclusive – notem o grau de santidade do cara – estive no Desfile das Campeãs com a Morena. Quem foi conosco? Ele, o Gava.
Sambou como um curitibano. Bebeu como um cossaco. Dormiu no concreto das arquibancadas como um mendigo. E faltando pouco pro dia clarear, ergueu-se e despediu-se de nós.
Deu-me um fraterno abraço, uns tapinhas nas costas, e soprou-me no ouvido, catoliquíssimo:
– É amanhã, é amanhã! Comece amanhã! Quarenta dias não são quarenta horas. Boa Quaresma… – e sumiu em meio à multidão.
Até.”
LIVROS (A HORA DA JABALÂNDIA)
Publiquei poucas coisas até hoje.
Mas publiquei.
Meu lar é o botequim, que está esgotado*, foi o primeiro (mentira, tenho vergonha do primeiro e por isso eu o omito), lançado em dezembro de 2005. Pode ser comprado só em sebos (aqui) - tenho apenas um exemplar novo em folha e que estou aqui pensando como posso sortear.
De hoje não passa, escrito a quatro mãos (uma troca de cartas) com Julio Bernardo (aqui).
E Tijucanismos, aqui.
Uma ou outra coletânea… e olhe lá.
Vamos a um spoiler: ano que vem lançarei Meu lar é o botequim, edição de 20 anos. Revisto, reescrito, mas com o mesmo espírito que norteou o lançamento em dezembro de 2005.
UMA DICA DE PLAYLIST
Quero indicar a vocês, meus poucos mas fiéis leitores, uma das playlists que montei no Spotify - Rio de Janeiro - que já conta com 207 seguidores, 58 músicas, 3 horas e 30 minutos de som.
Ela será permanentemente incrementada (e eu aceito sugestões que podem ser enviadas por e-mail!).
Ela está aqui ou, se preferir, ouça já! - abaixo.
A referida playlist deve ser ouvida no modo aleatório e, repito, está longe de estar definitivamente pronta. Assim como eu.
Até.
Podemos continuar o papo (e você pode saber mais sobre mim, nessa exposição permanente que são as ~redes sociais~) no Twitter | no Instagram | ou no YouTube
Dúvidas, sugestões, críticas? É só responder esse e-mail ou escrever para edugoldenberg@gmail.com
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